O estilo punk e o universo musical do Punk Rock são uma das manifestações musicais mais carregadas de ideologias que já existiu. Dos jeans rasgados aos acordes rápidos e letras ácidas, o mundo punk tem sempre uma mensagem a ser passada sobre suas visões políticas do mundo. Ainda que tenha perdido muito sua força influente do passado, a ideologia e o estilo ainda persiste e resiste em comunidades que incorporam a luta ideológica pregada pela sua visão de mundo.
A palavra “punk” é uma expressão da língua inglesa que é usada para classificar um indivíduo ou grupo urbano antissocial que se desviava dos padrões normativos de conduta da época, visto como a parte inútil de uma sociedade.
O punk teve seu início como uma forma de expressão artística de uma visão contracultural do mundo moderno. A ideia tomou forma, inicialmente, no início dos anos 70, nos Estados Unidos, com bandas formadas por jovens de classe média que rejeitavam e criticavam a mentalidade e o estilo de vida da classe que faziam parte.
Embora sua origem fosse o cenário artístico e social dos Estados Unidos, a cultura punk foi apenas estabelecida como tal ao chegar na Inglaterra em meados dos anos 70, sendo absorvida e adotada pelo cenário musical que estabeleceu os fundamentos do estilo Punk, através de suas músicas com pesado teor político que se relacionavam à realidade de desemprego e decadência econômica da sociedade britânica na época.
Ofensas à Rainha, penteados ousados e roupas rasgadas invadiram a mídia inglesa, que até então mostrava-se atônita ao comportamento das bandas e dos punks que se multiplicavam pelas ruas das grandes cidades. A cultura punk começou a tomar forma, sendo que a música torna-se apenas uma parte de um movimento caracterizado pela rebeldia, seja ela estética, política ou musical.
O movimento possui um conceito de liberdade, protesto e livre expressão associados às concepções libertárias do anarquismo, sendo que no decorrer do tempo, o punk tornaria um movimento através da ideologia anarquista – defendendo uma sociedade livre da dominação do Estado, da Igreja e de qualquer Instituição que vise a opressão do homem, pretendendo a formação de uma sociedade onde todos os homens sejam indivíduos livres, sendo todos responsáveis pelo bem comum.
O movimento punk em geral sustenta valores como o pessimismo, o anti autoritarismo, apoiava ideologia anárquica, como já mencionado, e o igualitarismo. Além dos valores de anti-lideranças, liberdade individual, iconoclastia, autodidatismo, anti nazismo e cosmopolismo.
A política DIY ("do it yourself", ou "faça você mesmo") pregava que músicos e fãs não dependiam de grandes corporações. Dessa ideologia, surgiram as gravadoras independentes e os fanzines, que ganharam popularidade e respeito. O DIY se expandiu para a moda e para o design – eram comuns pôsteres, flyers e roupas feitos à mão.
Com sua política acolhedora, o estilo abriu espaço para as mulheres também. Elas passaram a integrar e até liderar bandas – entre os nomes importantes estavam Patti Smith, Debbie Harry e as The Slits.
A crítica social das letras, o cinismo diante de uma sociedade moralista e em decadência, o visual agressivo e a atitude marginal foram os meios que o movimento encontrou para mostrar-se oposto à cultura e ao poder da sociedade capitalista, exibindo-se como um produto ruim de uma sociedade baseada na desigualdade e na dominação. No final da década de 70, a cultura punk já estava disseminada por várias partes do globo, e seus frutos começavam a florescer em regiões distantes de seu berço.
O estilo característico dos punks são as roupas rasgadas, os penteados chamativos e os adereços pesados, como correntes, espetos, brincos, jaquetas de couro, eram usados como uma das formas de escandalizar e quebrar a norma social vigente. Também se justificavam por se tratarem de vestimentas baratas ou antigas, que incorporavam o ideal da abolição do consumismo e, ao mesmo tempo, retratava a dura realidade econômica da juventude da época.
O estilo Punk se consagrou com bandas como Sex Pistols, The Clash, The Ramones, Velvet Underground e New York Dolls, e chegou ao Brasil no fim da década de 70.
O cenário punk no Brasil se constituiu com forma muito mais combativa do que a observada no exterior. A realidade histórica da época era a da ditadura militar, e a opressão e o autoritarismo do regime bateu de frente com os ideais de liberdade e antiautoritarismo do mundo punk. A cultura se espalhou aos poucos pelo território brasileiro, uma vez que o mercado musical não tinha interesse nessa nova forma transgressora de música e a censura ainda assombrava a mídia brasileira.
No final dos anos 70, o punk começou a se disseminar em São Paulo e Brasília e depois se alastrou para outros estados. Como os discos estrangeiros eram difíceis de encontrar, os fãs gravavam fitas K7 e compartilhavam. Grupos como Cólera, Olho Seco e Aborto Elétrico, a primeira banda que Renato Russo participou, seguiam o estilo e a sonoridade das bandas estrangeiras.
A cultura punk influencia até hoje a cena alternativa, na qual sua ideia de autonomia e de liberdade de expressão pode ser encontrada em bandas que não frequentam a grande cena e fazem sua música sem a dependência das grandes gravadoras, assim como o próprio movimento punk, que ainda existe mesmo de maneira mais restrita, tentando manter viva a ideia de protesto contra a sociedade capitalista e o fim das opressões que o homem sofre em seu cotidiano pelas instituições sociais.