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Brasília Poética

Published on Nov 18, 2015

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PRESENTATION OUTLINE

BRASÍLIA POÉTICA

Gabriel Moraes.

"Entre retas e curvas inexistentes"

Entre retas
e curvas inexistentes,
no espírito amistoso,
no misto de sua gente,
pulsa Brasília,
herança prometida.
Quem sonha
acorda Brasília.
Quem deseja
realiza Brasília.
Quem ama
transforma Brasília.

“Brasília com rodas, rodas aos milhões”

Há meio século o que todos vêm buscar
nos traços lúcidos de Lúcio,
nas curvas de Oscar?
Brasília com rodas, rodas aos milhões,
rodas de amigos, rodas de bar?
Há meio século o que todos vêem
nas curvas de Lúcio, nos traços lúcidos de Oscar?

O mundo gira, o Brasil roda,
cai cá, no centro.
Nos traços faceiros de Lúcio,
nas curvas fascinantes de Oscar.

Há meio século o que todos vêm buscar?
Os frutos nas ruas, as cigarras nas quadras,
o “concreto”, uma chance, uma luz, espaço, bom ar?

Nos fascinantes traços de Lúcio,
nas curvas faceiras de Oscar.

Há meio século o que todos vêm buscar?
O poder, poder dizer, poder falar?
Para reclamar os traços de Lúcio e
as curvas de Oscar.

O que todos vêm buscar?
Estudar os traços e curvas de Lúcio?
Estudar nos traços e curvas de Oscar?

A fé, Ana Lídia, a lagoa do sapo, ou lobo-guará?
O céu, lindo céu, limpo véu?

A coruja sobre o “pardal”, a água doce?
Os Cruzeiros, a torre, o Lago Paranoá?

Vieram para morrer, para mandar, vieram para morar,
para lucrar, vieram para sonhar,
nos traços de Lúcio, nas curvas de Oscar.

"Por baixo das nuvens parece no espaço, pousada na terra parece infinita”

(...)
Um templo do espaço, dos seres estranhos,
quem sabe dos deuses de ingentes caminhos,
em breve repouso, silente sossego,
tranqüilos, sedentos de inércia e carinhos.

U’a nave que emerge de um pouso na terra
e em pleno equilíbrio na terra levita,
por baixo das nuvens parece no espaço,
pousada na terra parece infinita.

Por dentro, capela enluvada na terra,
igreja de pedra, de luz e cristal.
Brilhante nos raios do sol que a ilumina
tão jovem menina, nasceu catedral.
(...)

“ Por que Brasília resplandece ante a pobreza exposta dos casebres de Ceilândia”

A suntuosa Brasília, a esquálida Ceilândia
contemplam-se. Qual delas falará
primeiro? Que tem a dizer ou a esconder
uma em face da outra? Que mágoas, que ressentimentos
prestes a saltar da goela coletiva
e não se exprimem? Por que Ceilândia fere
o majestoso orgulho da flórea Capital?
Por que Brasília resplandece
ante a pobreza exposta dos casebres
de Ceilândia,
filhos da majestade de Brasília?
E pensam-se, remiram-se em silêncio
as gêmeas criações do gênio brasileiro.

“E meio dia já é fim de jornada para quem nem vai almoçar pasteis de vento”

Os viventes se movem
​pastel de cana e caldo de queijo
pastel de vento e caldo de desejo
pastéis inventam sugerem despejos
sonhos de vento arrebatam frígidos beijos
às cinco da manhã, dificeis trôpegas
as pernas sentem o cheiro de
urina mal curtida dos não-dormidos
insones na rodoviária, que tem mais
luzes que assentos, mas placas que
ônibus, mais olhos que desejos mais
desejos que bocas, mais bocas que
comida às oito na rodoviária já é meio
dia para quem acordou às cinco e saiu do
gama, recanto das emas paranoá brasilinha e meio
dia já é fim de jornada para quem nem vai
almoçar pastéis de vento caldos de desejo às
seis ave marias escuridão já embota
o cérebro embota o estômago já embota
as botas nove da noite já é
hora de dormir pastéis de desejo
caldos de despejos à meia noite lembra?
que dia foi ontem se lembra pastel de
cana e caldo de queijo na rodoviária

"Uma paisagem rural"

Há que te veja nave de aço, avião
mas eu te vejo ave de pluma,
asas abertas sobre o chão.

Há quem te veja futurista e avançada
mas eu recolho em ti a paisagem rural
lá de onde eu vim:
fazenda iluminada.

E quem declara guerra a teu concreto armado
nunca sentiu a paz do teu concreto desarmado.
Há quem te veja exata, fria, diurna e burocrática
mas te conheço é gata noturna, quente, sensual – enigmática.

Há quem te gostaria só Plano Piloto, teu lado nobre,
mas eu também te encontro na periferia, teu lado pobre.
Há quem só te reconheça nos cartões postais
mas eu te vejo inteira, planaltina,
cercada de gamas, guarás e taguatingas.

Aos que só te querem grande – Patrimônio Mundial,
egoisticamente te declaro patrimônio meu, exclusivo:
Brasília minha
e, no meu bem-querer diminutivo, Brasilinha.